Segue mais uma 'história da boca'. Ela também ia entrar no livro volume VIII de O Conto Brasileiro Hoje. Mas não foi possível. Foi publicada na edição de 9 de novembro de 1985 do Notícias Populares.
OS SEIOS DE ROSÁLIA
Os seios de Rosália eram duas melancias rijas encravadas no peito. Mas eram bonitos, lindos como os daquelas americanas reforçadas que posam nuas para revistas de sacanagem.
Rosália era minha galinha dos ovos de ouro. A peãozada da rua Aurora não dava folga pra coitada. De todas as fêmeas que batalhavam pra mim, ela era a mais requisitada, a que mais faturava.
Houve um tempo em que eu fiquei enciumado. Tirei ela da vida e botei no meu apartamento, pra ficar com a exclusividade daqueles seios aconchegantes.
Foi uma época deliciosa. Era só eu chegar em casa, e lá vinha ela me abrindo os braços. Aí eu mergulhava naquelas carnes macias e me esquecia das agruras da vida de rufião.
Mas, sem ela, os negócios começaram a naufragar. As outras meninas pouco rendiam, e eu me vi obrigado a enfiar Rosália na vida de novo.
A freguesia retornou afoita. Eu tinha de ficar por perto o tempo todo, senão os pilantras se matavam por ela.
Vez por outra, eu ainda reservava Rosália para meu uso próprio. E nesses dias, regados a cachaça e cerveja, ela me apertava entre os seios e dizia:
- Me tira dessa nojeira, amor. Não agüento mais...
Eu então acariciava as auréolas rosadas dos seus enormes mamilos e prometia coisas que jamais iria cumprir.
Até que uma noite eu notei que os seios de Rosália estavam ainda maiores. Reclamei que ela precisava se cuidar melhor, pois, além dos seios, a barriga também estava mais saliente.
Ela, porém, sacudindo os falsos cabelos loiros, disse, desanimada:
- Agora não adianta, meu filho. Estou prenhe...
Cheio de fúria, ordenei:
- Arranque o quanto antes essa tranqueira daí.
- Isso é pecado. Vou ter a criança, quer você queira ou não.
Foi a última vez que vi e desfrutei dos seios de Rosália. Ela arrumou a trouxa e voltou pro Norte, de onde viera.
Meus negócios, pouco a pouco, foram por água abaixo. Tive de mudar de ramo para sobreviver. Virei bicheiro, mas me dei mal. Hoje, sou leão-de-chácara de uma boate vagabunda na Boca do Lixo.
Vez por outra discuto comigo mesmo se devia ou não ter deixado Rosália ter o filho. Mas de que adianta pensar nisso agora. É tarde, muito tarde.
(Histórias da Boca / Notícias Populares / Sampa, 9-11-1985)
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