O que Maria da Gema tinha de beleza possuía, na mesma proporção, em frigidez sexual. A loira de olhos verdes era uma geladeira na cama. Eu já havia tentado de tudo. Só faltava mesmo consultar um sexólogo.
Nosso quarto era mais bem equipado do que um motel. Cama enorme, em forma de coração. Espelho no teto, sauna, hidromassagem e cinco aparelhos de vídeo exibindo simultaneamente os mais picantes filmes de sacanagem. Na hora “H”, sempre a mesma resposta:
- Não consigo, amorzinho. Por mais que tente, não sinto nada.
- Vamos ver um médico, então...
- Não, não, por favor, não...
Ela se debulhava num choro sentido. Eu acendia um cigarro. Quando acabava de fumar, Maria da Gema já tinha adormecido. Ficava com pena de acordá-la. Deixava aquele belo corpo nu sobre os lençóis e ia me “aliviar” no banheiro.
Não fosse a incomensurável paixão que nutria por ela, já teria me separado. Mas eu tinha amor de sobra e dinheiro também. Continuei tentando.
Chegou um tempo em que desisti. Conformei-me em amá-la apenas platonicamente. Ao mesmo tempo, para compensar, mergulhei no alcoolismo e nas drogas. Às vezes, passava três, quatro dias fora. Eram orgias atrás de orgias. Quando voltava, ela me abraçava e me beijava ternamente. Mas ficava só nisso.
Um dia, ainda no escritório, decidi que iria despertá-la para o sexo de qualquer maneira. Cancelei compromissos importantes, encerrei o expediente e rumei para casa com uma idéia fixa na cabeça: “É hoje, ou nunca”.
Talvez a surpresa fosse a chave para romper aquela frigidez. Dirigia o carro feito um louco, só pensando em tê-la em meus braços.
Quando cheguei, não a encontrei. Um empregado disse que a viu indo em direção à piscina. A mansão onde morávamos era esplendorosa. Toda cercada por enormes jardins arborizados.
Fui até a piscina, e nada. Só mais adiante consegui avistá-la. Mas antes não a tivesse visto. Foi o maior golpe da minha vida.
Debaixo de uma seringueira, Maria da Gema, coberta de suor e terra, se espojava com um homem... Com Marcílio, o jardinheiro...
(Histórias da Boca / Notícias Populares / Sampa, 12/6/1985/ A.M.Soldera)
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